Serena – Ian McEwan

08_serenaConfesso que uma das coisas que me levaram a querer ler Serena foi ter ouvido falar que o final do romance era muito surpreendente, e o fato de se passar na década de 70 também me atraiu. O que me fez gostar da leitura, no entanto, não foi uma coisa nem outra, mas tão somente as questões sobre livros e literatura que atravessam o texto, que para mim foram colocadas de uma maneira interessante e simples, ao contrário do que fazem alguns autores contemporâneos, que carregam no eruditismo e deixam o leitor no escuro*.

A personagem Serena também me envolveu nas poucas coisas que eu senti ter em comum com ela, embora às vezes ela dê a impressão de não ter caldo suficiente para a sopa: os outros personagens parecem sempre ter mais substância que ela. Talvez o mais curioso de sua personalidade seja a característica contraditória de querer satisfazer seus mentores/amantes – dando a entender que entende mais das coisas do que realmente entende – e ao mesmo tempo não se envergonhar do prazer de suas leituras rasas:

“Eu era a mais simples das leitoras. Só queria o meu mundo, comigo dentro, devolvido para mim de maneiras artísticas e de uma maneira acessível.”

O problema do livro para mim foi o próprio enredo, que alimentou expectativas que não foram concretizadas. A leitura é prazerosa tanto pela escrita do McEwan quanto pela curiosidade em desvendar o que pode haver por trás de tudo (afinal é uma história que envolve espionagem!), mas o que surge no final, embora possa ser algo inesperado, é quase um não-final, e mesmo fazendo sentido e tornando o livro original, não me satisfez como leitora, pois desmorona todo o castelo de cartas construído. É claro que isso é apenas uma experiência pessoal baseada no que eu esperava do livro, pois muita gente leu e achou o final genial e eu mesma acho que é um livro recomendável, mas ficou o sentimento de leve decepção, pois assim como Serena, pelo menos nesse caso, eu esperava mesmo era uma boa reviravolta no enredo que atendesse a meus anseios superficiais.

*A Luara comentou melhor sobre essa questão, apesar dela ter achado que o autor não fez o bastante.

16 comentários sobre “Serena – Ian McEwan

  1. Lua,
    confesso que me desanimei depois da Luara e agora da sua impressão também!
    Mas o que mais me perturba com o Ian é ter visto o filme Reparação! (Teria sido tão bom ler o livro… Agora perde um pouco todo o charme visto que já sei o desfecho.)
    Beijos!

    1. Dê, não desanime não, é um bom livro, o problema é que é daqueles que dependem muito do que você espera, sabe? E como teve um falatório muito grande em cima dele, de ser lançado aqui no Brasil e tudo mais, eu acabei indo com muita sede ao pote, mas eu me diverti muito com a leitura. Tanto que quero muito ler os outros do autor, principalmente Reparação (ainda bem que não vi o filme!).
      Beijo!!

  2. Eu gostei do livro e me surpreendi com o final. Não tinha muitas expectativas. Só queria ver se o livro era tão bom quanto diziam. Achei a experiência válida. E fiquei com vontade de ler “Reparação”, considerada a obra-prima do autor.
    bjo

    1. Eu também gostei, Michelle! E o final foi surpreendente, sem dúvida, mas é que eu queria uma surpresa dentro da história e não na própria estrutura narrativa, sabe?
      É como se o livro voltasse pro começo e não tivesse final, foi a sensação que tive. A minha decepção foi justamente porque estava gostando do livro e o final me deixou um pouco frustrada. Mas eu também quero muito ler Reparação! Beijo!!!

  3. Reparação é infinitamente melhor! Serena é bom como entretenimento, o tipo de livro que você lê esperando uma história boa e acho que ele consegue atingir esse propósito, sem ser genial. Eu achei o final meio surpreendente a um primeiro impacto, mas depois quando você para pra pensar, ele não é tão surpreendente assim rsrs Assim como você eu preferia uma surpresa na história em si e não na questão narrativa 😉
    Mas valeu a leitura!
    Beijo!

    1. Estou super curiosa com Reparação, Tati! Acho que dei a impressão de que não gostei de Serena, mas gostei, só achei que seria algo diferente. =)
      Beijão!!!

  4. No “Serena” eu tive a impressão de que ele perdeu o fôlego do meio pro fim. De fato, foi muita promessa para pouca surpresa. Mas é um McEwan, com suas descrições que nunca cansam e que sempre extraem aspectos interessantes de qualquer coisa ou situação. Já no “Reparação” ele consegue tudo, é perfeito na linguagem e no enredo. Agora quero muito ler “Solar”. : )

  5. Olá!

    Sugiro que você leia Amsterdam como próxima livro do McEwan.
    Foi o primeiro livro que li dele e achei excelente. É bem curtinho, não vai te ocupar muito antes de você ler outra coisa. Vai valer a pena, pode confiar.

    1. Olá, Mário! Obrigada pela dica! Estou querendo muito ler outro livro do autor e um assim curtinho parece ótimo agora.
      Abraço!
      Lua.

  6. Lua, já li dois livros deste autor (Reparação = Jane Austen de cuecas no estilo e na superficialidade), O jardim de cimento (que é algo grotesco).
    Como vc mesma comentou sobre a personagem “falta caldo para a sopa”, é exatamente esta impressão que tive das duas obras que li dele, falta fôlego e constancia.
    Depois da tua resenha, tive certeza que não terei paciência pra mais uma leitura insossa de alguma obra do Sr. McEwan, embora eu entenda que apesar das deficiencias, vc ainda o indica.

    Hug

    1. Nossa, Márcia, você é a primeira pessoa que vejo falando mal de Reparação.
      Bom, eu consigo ver muita coisa bacana em Jane Austen, talvez isso não seja um problema pra mim, além do quê tenho muita curiosidade com esse livro.
      Já Serena, realmente, foi meio decepcionante, mas teve seus bons momentos, vamos ver o que acho dos outros livros dele. 😉
      Beijinho!

      1. Oi Lua, verdade, eu também nunca vi ninguém falar mal desta obra.
        Sou mega chata com livros, ou seria mega crítica, ainda não me decidi, mas fato é que este autor ainda não me convenceu sobre sua exelencia literária.

        Tenho gostado muito do teu blog, vc escreve muito bem e com clareza, isso facilita muito pra nós que buscamos um ponto de referencia para possíveis leituras ou não.

        Hug 🙂

        1. Obrigada, Márcia! Por enquanto não está dando pra escrever, até porque não estou conseguindo achar tempo pra ler, mas assim que eu tiver uma rotina mais calma quero voltar a falar dos livros por aqui. Espero que volte sempre! =)
          Beijão!!!

  7. Apesar de você não ter gostado tanto desse livro, continuo com vontade de ler, Lua. O que eu mais gostei em Reparação foi a escrita de Ian McEwan e me parece que não é diferente em Serena, né?
    Quanto à discussão sobre literatura, eu infelizmente não consegui ler o post da Luara (quando ela mudou para o “Ao Rés do Chão” os posts do “Isaac Sabe” sumiram), mas eu senti um pouco disso em Reparação. Até comentei lá na minha resenha que Briony recebe uma carta de uns editores que pedem a ela para não imitar o estilo de Virginia Woolf porque no fundo, no fundo o que queremos ler é uma boa história. Está aí uma coisa que podíamos ter discutido no fórum com A Fazenda Africana, né? Karen Blixen é mestre em contar histórias fascinantes sem eruditismo nenhum.
    A foto do post ficou tão linda! Foi você quem tirou?
    Beijo!

    1. Pois é, Eduarda, e a leitura é uma coisa muito pessoal, a expectativa de cada um, não é mesmo? Eu gosto do McEwan, mas em Serena eu criei uma expectativa em relação ao final muito diferente e quando vi o que era fiquei decepcionada, mas muita gente que leu achou o máximo, então é realmente pessoal. Tem razão, poderíamos ter falado sobre isso, apesar de que mesmo não sendo erudita, a Blixen tem uma escrita muito bonita, simples, mas muito poderosa. A ilustração é uma montagem que fiz com a imagem do kindle e a imagem da capa do livro, rs. Sempre faço isso com os livros que leio no kindle. =D

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