As Brumas de Avalon – Marion Zimmer Bradley

06_avalon_allO que será que há nas lendas medievais que atraem tanto as pessoas, especialmente os mais jovens? Será porque passam a idéia de uma vida aparentemente mais simples, em que havia um contato mais direto com a natureza, ou porque revelariam uma fantasia do homem forte e destemido que deve enfrentar suas batalhas e a donzela frágil que espera ser salva apenas por sua beleza e bondade – o que faz até hoje meninas se vestirem de princesa e meninos brincarem com espadas? Talvez seja porque essas histórias permitem um enorme espaço para o desconhecido, seja através da magia ou da religião, oferecendo a possibilidade de soluções rápidas para os problemas ou porque valores como honra e compromisso são levados a sério, oferecendo uma certa segurança ou conforto.

Não sei o que seria, mas na adolescência as histórias medievais me chamavam muito a atenção e mesmo assim eu nunca havia lido As Brumas de Avalon, livro devorado por muitos amigos meus na época. Até cheguei a assistir ao filme televisivo de 2001, mas somente ano passado adquiri os livros da saga e reacendi a curiosidade com essa lenda arturiana recontada sob o olhar de seus personagens femininos.

Principalmente a partir do segundo livro percebe-se que o romance se trata basicamente de um embate entre paganismo e cristianismo, força feminina e força masculina, natureza e espírito, terra e céu: elementos representados respectivamente por Morgana e Gwenhwyfar (também conhecida por Guinevere). Os personagens em geral são bem humanos, nem bons nem maus, e a maior parte deles muito cativantes e bem construídos, especialmente Morgana – o leitor torce por ela até quando está errada. Acredito que a única personagem insuportável do livro seja Gwenhwyfar, não necessariamente pelo seu fanatismo religioso e superficialidade, mas pela sua pouca capacidade de evolução, tornando-a muito repetitiva na história, um verdadeiro disco arranhado.

O primeiro e terceiro livros foram os melhores, na minha opinião, e apesar de ter sentido uma queda na qualidade da narrativa lendo o último livro, no geral a leitura foi o que eu esperava: envolvente e leve, até mesmo quando traz breves discussões teológicas, e com o ótimo mérito de dar voz e poder às mulheres diante de uma lenda tão masculina.

Sobre a adaptação (com spoilers)
07_avalonJá havia assistido a esse filme (ou mini-série) em 2001, mas não lembrava de absolutamente nada. Como costumo dizer, não procuro fidelidade de enredo em adaptações, mas espero que elas sejam fiéis ao espírito do livro e esta está bem longe disso. Mesmo não entendendo muito de Paganismo, dá pra perceber que aqui ele é retratado como mera bruxaria e o seu embate com o Cristianismo foi praticamente sufocado, ou distorcido. Além disso, no livro todos os personagens são ambíguos, moralmente falando, e aqui eles ou são bonzinhos ou são malvados, criando um maniqueísmo que destrói completamente a força dos personagens criados pela autora. E como se não bastasse, até espada colocam na mão de Morgana, enquanto a idéia de poder da mulher proposta por Bradley não era a de se apropriar do mundo masculino, mas tão somente utilizar seus próprios recursos femininos.

14 comentários sobre “As Brumas de Avalon – Marion Zimmer Bradley

  1. Também não consigo me acostumar com ideia, parece coisa daquelas fontes de computador que comem os acentos rs E “têm” para designar o plural sem acento? Perde toda a poesia!
    Você acredita que só vim a saber de As Brumas de Avalon depois de encontrar os blogs literários na internet? Antes disso nunca ouvi falar, mas parece ser uma leitura bem divertida. Sou louca para conhecer a região na Escócia que originou essas lendas, quando tiver programado para ir eu pego esses livros pra ler!
    Beijo Lua, te adoro!

    1. Ai, Tati, eu também não, eu boicoto mesmo esse acordo novo, deixo-o para as próximas gerações, rs.
      Brumas é divertido, especialmente para quem curte lendas medievais. Eu também sou louca pra conhecer a Escócia (meu marido mais ainda que eu), espero que dê certo um dia! Também te adoro, Tati, você é uma fofa!!! =)

  2. Mas é isso mesmo, Lu! A nova ortografia vaia acabar sendo natural pras gerações seguintes. Não é a primeira vez que isso acontece no Brasil – e duvido que das outras vezes as pessoas tenham tirado instantaneamente o acento circunflexo de dezenas de palavras!

    1. Pois é, Molanda, mas o meu problema não é com a mudança em si, mas os motivos da mudança, que não são lingüísticos, mas políticos. A idéia (com acento, rs) é unificar uma coisa que não dá pra unificar. Uma língua não é feita só pela ortografia. Um texto oficial que sirva para todos os países de língua portuguesa? E a sintaxe? E a semântica? Acaba sendo apenas uma violência à cultura de cada país, e eu duvido muito que os portugueses deixem de escrever “acto” e passem a escrever “ato”, por exemplo. Um acordo interno, brasileiro, de acordo com as necessidades do usuário de língua portuguesa no Brasil e estudado por pessoas que entendem do assunto, isso sim poderia ter meu apoio. =)

  3. Eu também acho que os motivos que levaram às mudanças ortográficas são ridículos, mas, por questões de trabalho, já me habituei. Na verdade, tive que me impor. Acredita que tinha cliente que não queria aceitar as mudanças, outros que só aceitavam a nova ortografia e o dono do escritório queria que os tradutores fizessem as vontades de cada cliente? Ele acha que é fácil usar cada hora uma regra. É só apertar um botão no cérebro e pronto. Enfim… rolou uma discussão, nós, os tradutores, decidimos que só vamos usar a forma nova e pronto. Gostou, ótimo, não gostou… revise os arquivos e troque tudo para a forma antiga.
    Mas sobre o livro… acho que o atrativo é justamente essa mistura de hábitos remotos, de cavaleiros destemidos e mocinhas corajosas, de misticismo e religião. Eu gosto dos filmes e séries medievais, mas leituras dessa época não me atraem tanto.
    bjo

    1. Michelle, eu acho que quem trabalha com isso tem realmente que se adaptar, o que não é o meu caso. Se eu tiver que usar a nova ortografia, usarei em textos formais quando for obrigatório, mas nos meus blogs, nas minhas cartas e e-mails, em todos os meus textos pessoais eu continuarei escrevendo da maneira que eu quiser e achei muito chato alguém ter vindo aqui me corrigir (apaguei o comentário), acho uma falta de educação.
      Mas olha, eu desconfio que você viesse a gostar d’As Brumas porque ele sai do padrão do estilo, se você tiver oportunidade de tentar… 😉
      Beijinho, querida!!!

  4. Oi frô!
    minha primeira leitura do As Brumas foi aos 17 anos, e de lá pra cá sempre já o devo ter relido umas 15 vezes, quase todo releio. É um dos meus preferidos e sou completamente apaixonada pela Morgana, sua força, beleza, carisma, entrega, fragilidade, enfim, uma personagem tão belamente construída, como outras na saga. recomendo também da MZB o O Incêndio de Tróia, que segue a mesma linha das Brumas, narra sobre a guerra de Tróia sob a ótica feminina. Eu gosto bem mais do que a Ilíada!! ;o)

    Xerinhos, lindeza!
    Paty

    1. Paty, eu queria ter lido As Brumas na adolescência, como todo mundo, mas infelizmente os livros não chegaram na minha mão na época. Eu adorei a Morgana, é uma personagem incrível! Só não gostei mesmo da Guinevere, embora ela seja necessária. Vou procurar O Incêndio, parece legal!
      Beijinho!!! =)

  5. Lua,
    minha irmã está lendo esse livro e amando. 😉
    Eu lembro de ter lido o um na adolescência e ter gostado. Mas, infelizmente, não lembro praticamente nada da história, rs. Gosto de leituras leves e envolventes e que tenham como pano de fundo um tema histórico; pretendo ler a série por agora para poder debater com ela também (mas e a fila imensa de livros? Escolher a próxima leitura tem sido difícil! rs).
    Lembro de ter gostado muito do filme (2001).
    Beijos!

    1. Dê, eu nem ia ler estes livros agora, mas a Morgana fez uma chamada para todo mundo ler a obra e eu acabei me empolgando, para poder ver os vídeos de quem postasse. Fora que eu estava querendo ler um livro bem simples e linear, o que é necessário quando se tem enjôos aqui e ali e a concentração cai, rs.
      Quando vi o filme em 2001 eu também gostei, mas depois de ler os livros eu percebi que o filme não manteve o espírito da coisa, é quase como se contasse uma outra história, sabe? A Morgana é muito mais interessante nos livros. =)
      Beijinho!

  6. Série indiscutivelmente inesquecível! *-*

    Foi a primeira série literária que eu li (nem sei se é considerada série lá fora, tenho minhas dúvidas), lembro que ia dormir muito tarde porque não conseguia parar de ler…! Muito bem construída, universo mítico rico, envolvente e convincente.

    Ainda não vi a adaptação, mas se ela sufoca os elementos do realismo dos personagens e se desvia da proposta feminista da autora é bom fazermos nossas críticas, como você muito bem pontuou. E se “maquia” a questão do discurso ecumênico, pior ainda…!

    Mas agora fiquei até curiosa, vou dar uma conferida. ;]

    1. Jéssica, realmente é uma série muito envolvente, eu só tive muita raiva da Guinevere, mas de resto foi uma ótima leitura. Beijo! =D

  7. Lua, eu nunca li os livros. Aliás, eu sequer sabia que existiam livros de As Brumas de Avalon! Esse foi um dos meus filmes preferidos da pré-adolescência, eu inclusive tinha o DVD, que infelizmente alguém pegou emprestado e nunca mais devolveu.
    Lembro até hoje da cenas em que a Morgana é tirada de casa e passa pelos primeiros rituais. Isso me marcou muito, e eu brincava sozinha que eu era ela. Agora fiquei com uma vontade muito grande de rever o filme (será que ele é mesmo tão legal quanto eu lembro? Será que meu gosto mudou?), e vou procurar a série para ler.

    Descobri seu blog lendo seu comentário no Lulunettes, e gostaria de convidá-la para o conhecer o meu também. Se estiver interessada em uma parceria, será um prazer! 🙂

    Um abraço,
    Monalisa
    http://www.literasutra.com

    1. Oi, Monalisa! Eu também vi este filme há muito tempo e tinha uma lembrança diferente dele. A gente muda e as obras mudam pra gente, não é mesmo? Mas quem sabe você teria o mesmo sentimento assistindo hoje, nunca se sabe. 😉
      Vou lá conhecer seu blog, beijo!

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